Wednesday, May 07, 2008

Palavras ao vento

Antes as palavras ditas realmente se dispersassem com o vento.
Mas não.
Elas ficam na atmosfera. Ficam pairando sobre as nossas cabeças e sobre as daqueles que as ouviram. Tal como em uma sala de poquer, onde todos bebem e fumam, esperando pela próxima carta virada. Aquela névoa intoxicante e mal cheirosa permanece em nós, entranha-se nas roupas, no cabelo.
As palavras ditas não podem ser retiradas. Ela já estão ali, incorporadas à realidade. Indiferentes ao fato de que nós somos desavisados, somos descuidados com o que dizemos. Um verdadeiro inferno que ronda, e faz parte do que não deveráimos fazer nunca mais.
Para o que serviram minhas resoluções de ano novo? O silêncio vale muito mais do que ouro, vale paz de consciência.
Se quero me expurgar dos erros não posso, simplesmente, dizer: "Me desculpe, esqueça o que eu disse." A súplica pelo esquecimento marca qual ferro em brasa na memória as palavras que escapolem da boca sem meditação.
O mais difícil, no entanto, é que não consigo me perdoar. No momento mesmo em que proferia vereditos e juízos, percebia que estava tudo errado. Aquelas palavras não eram para aquele ouvido. Aquelas palavras estão infinitamente aquém do seu objeto.
Sequer o alívio do perdão terei, portanto. E que isso valha mais do que as patéticas resoluções.

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