Sunday, September 10, 2006

ADOLESCÊNCIA

Acabei de reler vorazmente mais um dos livors da minha adolescência: "Música ao Longe" do Érico Veríssimo. Tento me lembrar agora em que momento eu estava quando o li pela primeira vez. Certamente apaixonada por algum garoto. Certamente cheia de aflições pelos mistérios da vida.´E constatei: é triste envelhecer e só ganhar de novo a amargura. A protagonista, Clarissa, é uma professorinha de 16 anos numa cidadezinha riograndense. Eu sou uma professorinha de 28 numa grande metrópole. Ela, bobinha, bobinha. Eu, uma parva. Muito mais imbecil do que ela, que tem todo o direito à imbecilidade, já que é uma professorinha de 16 anos numa cidadezinha riograndense.
Eu não tenho qualquer direito a imbecilidade. Não tenho direito a sonhos, nem a ilusões. Mal tenho direito a descanso. Felicidade, então, nem se fala. "Todos temos direito de ser felizes". Que frase mais estúpida. Quem disse isso, em que lei universal está escrito que todos os homens têm direito de ser felizes? Não, não tem! Digo e repito. Não existe felicidade. Não é sequer uma questão de merecimento. Quanta gente quase santa vemos por ai que sofre desesperadamente? Quanta gente escrota rindo, divertindo-se, sendo feliz? Não sou santa, nem escrota, e repetidamente as chances de felicidade se negam a concretização.
Mas o que estou dizendo, afinal? Pareço uma velha caduca reclamando de tudo. Pois se tenho um companheiro amoroso, uma família centrada e carinhosa, amigos preocupados, um emprego, uma casa, meus livros, meu cigarro e minha cerveja, algum resquício de inteligência. Como posso, em sã consciência, negar que tenho chances concretas de ser feliz? Tenho que chamar a minha própria atenção para minha rabugice. Tenho que me policiar. Sou um ser humano patético.

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